*MOODY*
* Dwight Lyman Moody nunca teve nada de especial, nasceu no dia 5 de fevereiro de 1837, de pais lavradores, o sexto entre nove filhos, vivia no Vale de Connectcut, nos Estados Unidos. Quando tinha apenas cinco anos de idade, seu pai faleceu, deixando a sua mãe sozinha criar e sustentar a Dwight e seus oito irmãos, tendo, o mais velho, apenas doze anos. Mostrando coragem e dedicação, a viúva Moody manteve todos os filhos sempre ao seu lado, apesar da insistência de amigos dizendo-lhe que deveria mandá-los para adoção. Foi nesta época que ela percebeu a falta de religião no seu lar e tratou, imediatamente de matricular todos na Escola Dominical. Assim, Dwight foi crescendo, mau estudante, começou a trabalhar cedo para ajudar a família, até que no dia em que completou 17 anos, resolveu ir embora, contra a vontade da mãe e dos irmãos. Seu destino era a cidade de Boston, onde achou emprego na sapataria que pertencia ao seu tio. Com o passar do tempo, sempre freqüentando a igreja de seu tio, tornou-se o maior vendedor da loja de sapatos, onde, aos poucos, foi acumulando uma grande soma de dinheiro. A religião para ele, porém, foi deixando de ser um hábito imposto e transformando-se em aceitação pessoal. No ano de 1856, mudou-se novamente, em busca de maiores riquezas para a novíssima cidade de Chicago. Como vendedor em Chicago, ele ficou muito bem, em apenas 8 meses conseguiu juntar 5 mil dólares, valor que para aquela época era muito além de significativo para um rapaz de origem pobre como ele. Mas, em Chicago, o rapaz acabaria por escolher outros caminhos em sua vida que mudariam a direção, não só dos seus planos, mas influenciariam milhares de pessoas ao redor do mundo. Um dia, fez uma visita na Escola Dominical de uma pequena igreja e pediu permissão para ensinar a uma das classes. O dirigente lhe respondeu: “Há dezesseis professores e somente doze alunos, mas o senhor poderá ensinar a todos os alunos que conseguir trazer à escola”. Para grande surpresa de todos, no domingo seguinte, Moody levou consigo dezoito meninos de rua, sem chapéu, descalços e de roupas sujas, para ensinar. E continuou a levar cada vez mais. Até que algumas semanas depois ele resolveu abrir outra escola em outro lugar da cidade, para que coubessem todos os alunos. Antes que terminasse o ano, seiscentos alunos em média assistiam à Escola Dominical, depois a assistência subiu para mil alunos e às vezes chegava a 1.500. Moody sentia-se dividido entre dois mundos: o dos negócios e o religioso e sabia que logo teria que tomar uma decisão entre eles. Finalmente, após seis meses de dúvidas e grande agonia, decidiu que se entregaria completamente à religião. Foi escolhendo este caminho que Moody tornou-se conhecido nos Estados Unidos. Era convidado para ministrar em conferências sobre Escola Dominical por todo o país. Construiu um grande centro religioso em Chicago. Anos depois, resolveu viajar para a Inglaterra a fim pregar em muitas cidades. Quando saiu dos Estados Unidos, ele era considerado um dos maiores professores daquele país, quando retornou, porém, ele já era conhecido como um dos maiores pregadores do mundo. E acabou tornando-se, depois dos apóstolos, o mais lembrado pelos cristãos de todos os tempos. Conta-se que pelo menos 500.000 pessoas foram diretamente influenciadas pelas pregações de Dwight Lyman Moody.
*JohnWesley* Viveu na Inglaterra do século XVIII, uma sociedade conturbada pela Revolução Industrial, onde crescia muito o número de desempregados. A Inglaterra estava cheia de mendigos itinerantes, políticos corruptos, vícios e violência generalizada. O cristianismo, em todas as suas denominações, estava definhando. Ao invés de influenciar, o cristianismo estava sendo influenciado, de maneira alarmante, pela apatia religiosa e pela degeneração moral. Dentre aqueles que não se conformavam com esse estado paralisante da religião cristã, sobressaiu-se John Wesley. Primeiro, durante o tempo de estudante na Universidade de Oxford, depois como líder no meio do povo. [editar] Infância John Wesley, décimo terceiro filho do ministro anglicano Samuel e de Susana Wesley, nasceu a 17 de junho de 1703, em Epworth na Inglaterra. Devido às atividades pastorais que impediam o Reverendo Samuel de dar a devida assistência ao lar, Susana assumiu a administração financeira da família e a educação dos filhos e filhas. Disciplinava com rigidez os filhos, mantendo horário para cada atividade e reservando um tempo de encontro com cada filho para conversar, estudar e orar. Incêndio em sua casa Ainda na infância, John Wesley foi o último a ser salvo, de forma miraculosa, em um incêndio que destruiu toda sua casa, onde estivera preso no segundo andar. A partir desse dia, Susana, sua mãe, dedicou-lhe atenção especial, pois entendeu que Deus havia poupado sua vida para algo muito especial. Aos cinco anos de idade, Susana Wesley começou a alfabetizar o John, usando o livro dos Salmos como apostila. John estudou com sua mãe até os 11 anos. Entrou, então, para uma escola pública, onde ficou como aluno interno por seis anos. Aos 17 anos, foi para a Universidade de Oxford. [editar] Estudos John Wesley iniciou seus estudos em Oxford onde começa a se reunir com um grupo de estudantes para meditação bíblica e oração, sendo conhecidos pelos colegas universitários de "Clube Santo", ele não inventou o nome: alunos, notando que os membros do grupo tinham horário e método para tudo que faziam, os tacharam como 'metodistas'. Wesley preferia chamá-los simplesmente de 'Metodistas de Oxford'.. Neste grupo Wesley e seu irmão Carlos iniciaram a visitar e evangelizar os presídios. Wesley passou então a se interessar mais pela questão social de seu país e a miséria que a Inglaterra vivia na época. Assim, gradua-se em Teologia, e pode ajudar a seu pai na direção da Igreja Anglicana. Isto até os 32 anos, quando atendeu a um apelo: precisava-se de missionários na Virgínia, Nova Inglaterra. [editar] Missão na Virgínia Um dos episódios que marcou o início do metodismo foi a viagem missionária de Jonh Wesley aos EUA - Virgínia para "evangelizar os índios" sendo praticamente fracassado. Em sua viagem de retorno Jonh Wesley expressa sua frustração "fui à América evangelizar os índios, mas quem me converterá?". Durante uma tempestade na travessia do Oceano Atlântico, Wesley ficou profundamente impressionado com um grupo de morávios (grupo de cristãos pietistas que buscavam a conversão pessoal mediante o Espírito Santo) a bordo do navio que, durante uma grande tempestade, as crianças e os adultos moravios cantavam e louvavam ao nome do Senhor (Deus)e Wesley vendo a fé que tinham diante do risco da morte (o medo de morrer acompanhava Wesley por ele achar que, Deus não poderia o justifica-lo mediante seus pecados e por isso constantemente temia a morte desde sua juventude) predispôs à seguir a fé evangélica dos morávios. Retornou à Inglaterra em 1738. [editar] Conversão Após 2 anos, John Wesley volta desiludido com o trabalho realizado na Virgínia. Encontra-se, então, com Pedro Böhler, em Londres. Böhler era pastor moraviano (da Morávia, Alemanha) e com ele John Wesley se convence de que a fé é uma experiência total da vida humana. Procurou, então, libertar-se da religião formalista e fria para viver, na prática, os ensinos de Jesus. No dia 24 de maio de 1738, numa pequena reunião, ouvindo a leitura de um antigo comentário escrito por Martinho Lutero, pai da Reforma Protestante, sobre a carta aos Romanos, John sente seu coração se aquecer (entende-se que Wesley experimentava o "batismo no Espírito Santo"). Experimenta grande confiança em Cristo e recebe a segurança de que Deus havia perdoado seus pecados. [editar] A Experiência do Coração Aquecido No dia 24 de maio de 1738, na rua Aldersgate, em Londres, Wesley passou por uma experiência espiritual extraordinária, que é assim narrada em seu diário: "Cerca das nove menos um quarto, enquanto ouvia a descrição que Lutero fazia sobre a mudança que Deus opera no coração através da fé em Cristo, senti que meu coração ardia de maneira estranha. Senti que, em verdade, eu confiava somente em Cristo para a salvação e que uma certeza me foi dada de que Ele havia tirado meus pecados, em verdade meus, e que me havia salvo da lei do pecado e da morte. Comecei a orar com todo meu poder por aqueles que, de uma maneira especial, me haviam perseguido e insultado. Então testifiquei diante de todos os presentes o que, pela primeira vez, sentia em meu coração". Nos 50 anos seguintes, Wesley pregou em média de três sermões por dia; a maior parte ao ar livre. Houve uma vez que pregou a cerca de 14.000 pessoas. Milhares saíram da miséria e imoralidade e cantaram a nova fé nas palavras dos hinos de Carlos Wesley, irmão de John. Os dois irmãos deram à religião um novo espírito de alegria e piedade. [editar] Igreja Estátua de Wesley em Wilmore, Kentucky Como não havia muitas oportunidades na Igreja Anglicana, Wesley pregava aos operários em praças e salões - muito embora ele não gostasse de pregar fora da Igreja - E tornou-se conhecidíssima esta sua frase: "o mundo é a minha paróquia". Influenciados pelos moravianos, John e seu irmão Carlos organizaram pequenas sociedades e classes dentro da Igreja da Inglaterra, liderados por leigos, com os objetivos de compartilhar, estudar a Bíblia, orar e pregar. Logo o trabalho de sociedades e classes seria difundido em vários países, especialmente nos EUA e na Inglaterra e estaria presente em centenas de sociedades, com milhares de integrantes. Com tanto serviço, Wesley andava por toda a parte a cavalo, conquistando o apelido de 'O Cavaleiro de Deus'. Calcula-se que, em 50 anos, Wesley tenha percorrido 400 mil quilômetros e pregado 40 mil sermões, com uma média de 800 sermões por ano. John Wesley deixou um legado de 300 pregadores itinerantes e mil pregadores locais. A Igreja Metodista, como Igreja propriamente, organizou-se primeiro nos EUA e depois na Inglaterra (somente após a morte de Wesley no dia 2 de março de 1791). Membros nos Estados Unidos[1] 1771 - 361 membros 1780 - 8.500 membros 1784 - 15.000 membros 1790 - 57.621 membros 1800 - 64.894 membros 1809 - 163.038 membros [editar] Doutrina John Wesley, por George Romney (1789) * Wesley ensinava que a conversão a Jesus é comprovada pela prática (testemunho), e não pelas emoções do momento. * Valorização dos pregadores leigos que participavam lado a lado com os clérigos da Missão de evangelização, assistência e capacitação de outras pessoas. * Afirma que o centro da vida cristã está na relação pessoal com Jesus Cristo. É Jesus quem nos salva, nos perdoa, nos transforma e nos oferece a vida abundante de comunhão com Deus. * Valoriza e recupera em sua prática a ênfase na ação e na doutrina do Espírito Santo como poder vital para a Igreja. * Reconhece a necessidade de se viver o Evangelho comunitariamente. John Wesley afirmou que "tornar o Evangelho em religião solitária é, na verdade, destruí-lo". * Preocupa-se com o ser humano total. Não é só com o bem-estar espiritual, mas também com o bem-estar físico, emocional, material. Por isso devemos cuidar do nosso próximo integralmente, principalmente dos necessitados e marginalizados sociais. * Podemos afirmar que o bem-estar espiritual é o resultado da paz de Cristo que alcança todas as áreas da vida do cristão. É o resultado do bem-estar físico, emocional, econômico, familiar, comunitário. Tudo está nas mãos de Deus, nEle confiamos e Ele é fiel em cuidar de nós. Sua salvação alcança-nos integralmente. * Enfatiza a paixão pela evangelização. Desejamos e devemos trabalhar com paixão, perseverança e alegria para que o amor e a misericórdia de Deus alcancem homens e mulheres em todos os lugares e épocas. * Aceita as doutrinas fundamentais da fé cristã, conforme enunciadas no Credo Apostólico (Cremos na Bíblia, em Deus, em Jesus Cristo, no Espírito Santo, no ser humano, no perdão dos pecados, na vitória por meio da vida disciplinada, na centralização do amor, na segurança e na perfeição cristã, na Igreja, no Reino de Deus, na vida eterna, na segunda vinda de Jesus, na graça de Deus para todos, na possibilidade da queda da graça divina, na oração intercessória, nas missões mundiais. Cremos profundamente no AMOR. Amor de Deus em nossa vida, amor dos irmãos.) , enfatizando o equilíbrio entre os atos de piedade (atos devocionais) e os atos de misericórdia (a prática de amor ao próximo). Fonte: LOCKMANN, Bispo Paulo; CONSTANTINO, Zélia. Seguir a Cristo, manual de discipulado [editar] Legado Além de milhares de convertidos e encaminhados para a santificação cristã, houve também obras sociais dignas de destaque, como estas: Dinheiro aos pobres (Wesley distribuía). Compêndio de medicina (Wesley escreveu e foi largamente difundido). Apoio na reforma educacional. Apoio na reforma das prisões. Apoio na abolição da escravatura! Atualmente, o total de membros da comunidade metodista no mundo está estimado em cerca de 75 milhões de pessoas. O maior grupo concentra-se nos Estados Unidos: a Igreja Metodista Unida neste país é a segunda maior denominação protestante. Hoje, além dos seguidores do Metodismo, a vida de muitos são influenciada pela missão de Wesley. Movimentos posteriores como o Movimento de Santidade e o Pentecostalismo devem muito a ele. A insistência wesleyana da busca da santificação pessoal e social contribuem significativamente para a ideologia da busca de uma vida e mundo melhor. A Igreja Católica Romana recebeu indiretamente alguns conceitos de Wesley quando o cardeal John Henry Newman uniu-se a ela, vindo da Igreja Anglicana e concretizando em reformas litúrgicas, sociais, carismática e teológica desde o concílio Vaticano II. Faleceu a 2 de março de 1791, em Londres, Inglaterra. Encontra-se sepultado em Wesleys Chapel, Grande Londres, Londres, Inglaterra.[2]
3. *Carlos Finney* (1792 - 1875) Autoria Desconhecida Perto da aldeia de New York Mills, no século dezenove, havia uma fábrica de tecidos movida pela força das águas do rio Oriskany. Certa manhã, os operários se achavam comovidos, conversando sobre o poderoso culto da noite anterior, no prédio da escola pública. Não muito depois de começar o ruído das máquinas, o pregador, um rapaz alto e atlético, entrou na fábrica. O poder do Espírito Santo ainda permanecia nele; os operários, ao vê-lo, sentiram a culpa de seus pecados a ponto de terem de se esforçar para poderem continuar a trabalhar. Ao passar perto de duas moças que trabalhavam juntas, uma delas, no ato de emendar um fio, foi tomada de tão forte convicção, que caiu em terra, chorando. Segundos depois, quase todos tinham lágrimas nos olhos e, em poucos minutos, o avivamento encheu todas as dependências da fábrica. O diretor, vendo que os operários não podiam trabalhar, achou que seria melhor que cuidassem da salvação da alma, e mandou que parassem as máquinas. A comporta das águas foi fechada e os operários se ajuntaram em um salão do edifício. O Espírito Santo operou com grande poder e dentro de poucos dias quase todos se converteram. Diz-se acerca deste pregador, que se chamava Carlos Finney, que, depois de ele pregar em Governeur, no Estado de New York, não houve baile nem representação de teatro na cidade durante seis anos. Calcula-se que, durante os anos de 1857 e 1858, mais de 100 mil pessoas foram ganhas para Cristo pela obra direta e indireta de Finney. A sua autobiografia é o mais maravilhoso relato de manifestação do Espírito Santo, excetuando o livro de Atos dos Apóstolos. Alguns consideram o seu livro, "Teologia Sistemática", a maior obra sobre teologia, a não ser as Sagradas Escrituras. Nasceu de uma família descrente e se criou em um lugar onde os membros da igreja conheciam, apenas, a formalidade fria dos cultos. Finney era advogado; ao encontrar, nos seus livros de jurisprudência, muitas citações da Bíblia, comprou um exemplar com a intenção de conhecer as Escrituras. O resultado foi que, após a leitura, achou mais e mais interesse nos cultos dos crentes. Acerca da sua conversão ele relata, na sua autobiografia, o seguinte: "Foi num domingo de 1821 que assentei no coração resolver o problema sobre a salvação da minha alma e ter paz com Deus. Apesar das minhas grandes preocupações como advogado, resolvi seguir rigorosamente a determinação de ser salvo. Pela providência de Deus, não me achei muito ocupado nem segunda nem terça-feira, e consegui passar a maior parte do tempo lendo a Bíblia e orando". "Mas ao encarar a situação resolutamente, achei-me sem coragem para orar sem tapar o buraco da fechadura. Antes deixava a Bíblia aberta na mesa com os outros livros e não me envergonhava de lê-la diante do próximo. Mas então, se entrasse alguém, eu colocaria um livro aberto sobre a Bíblia para escondê-la". "Durante a segunda e a terça-feira, a minha convicção aumentou, mas parecia que o coração se havia endurecido: eu não podia, nem orar... Terça-feira, à noite, senti-me muito nervoso e parecia-me estar perto da morte. Reconhecia que, se eu morresse, por certo iria para o Inferno". "De manhã cedo, fui para o gabinete... Parecia que uma voz me perguntava: - 'Porque esperas? Não prometesse dar o coração a Deus? O que experimentas fazer? - Alcançar a justificação pelas obras?' Foi então que vi, claramente, como qualquer vez depois, a realidade e a plenitude da propiciação de Cristo. Vi que sua obra era completa e, em vez de eu necessitar duma justiça própria para Deus me aceitar, tinha de sujeitar-me à justiça de Deus por intermédio de Cristo... Sem o saber, fiquei imóvel, não sei por quanto tempo, no meio da rua, no lugar onde a voz de dentro se dirigia a mim. Então me veio a pergunta: - 'Aceitá-lo-ás, agora, hoje?' Repliquei:- 'Aceitá-lo-ei hoje ou me esforçarei para isso até morrer...' Em vez de ir ao gabinete, voltei para entrar na floresta, onde podia derramar a alma sem alguém me ver nem me ouvir". "Mas ao tentar orar, o coração não queria. Pensara que, uma vez sozinho, onde ninguém pudesse ouvir-me, podia orar livremente. Porém, ao experimentar fazê-lo, achei-me sem coisa alguma a dizer a Deus. Toda a vez que tentava orar, parecia-me ouvir alguém chegando". "Por fim, achei-me quase em desespero. O coração estava morto para com Deus e não queria orar. Então reprovei-me a mim mesmo por ter-me comprometido a entregar o coração a Deus antes de sair da mata. Comecei a pensar que Deus já me tivesse abandonado... Achei-me tomado de uma fraqueza demasiadamente grande para ficar de joelhos". "Foi justamente nessa altura que pensei novamente que ouvia alguém se aproximar e abri os olhos para ver. Logo foi-me revelado que o orgulho do meu coração era a barreira entre mim e a minha salvação. Fui vencido pela convicção do grande pecado de eu envergonhar-me se alguém me encontrasse de joelhos perante Deus, e bradei em alta voz que não abandonaria o lugar, nem que todos os homens da terra e todos os demônios do Inferno me cercassem. Gritei: 'Ora, um pecador como eu, de joelhos perante o grande e santo Deus, e confessando-lhes os pecados, e me envergonho dele perante o próximo, pecador também, porque me encontro de joelhos para achar paz com o meu Deus ofendido!' O pecado parecia-me horrendo, infinito. Fiquei quebrantado até o pó perante o Senhor. Nessa altura, a seguinte passagem me iluminou: 'Então me invocareis, e ireis, e orareis a mim, e eu vos ouvirei. E buscar-me-eis, e me achareis, quando me buscardes de todo o vosso coração...'" "Continuei a orar e a receber promessas e a apropriar-me delas, não sei por quanto tempo. Orei até que sem saber como, achei-me voltando para a estrada. Lembro-me de que disse a mim mesmo: 'Se eu me converter, pregarei o Evangelho'". "Na estrada, voltando para a aldeia, certifiquei-me da preciosa paz e da gloriosa calma na minha mente. - 'Que é isso? Perguntei-me a mim mesmo'. - 'Entristecera eu o Espírito Santo até retirar-se de mim? Não sinto mais convicção...' Então lembrei-me de que dissera a Deus, que confiaria na sua Palavra... A calma de meu espírito era indiscritível... Fui almoçar, mas não tinha vontade de comer. Fui ao gabinete, mas meu sócio não voltara do almoço. Comecei a tocar a música de um hino no rabecão, como de costume. Porém, ao começar a cantar as palavras sagradas, o coração parecia derreter-se e só podia chorar..." "Ao entrar e fechar a porta atrás de mim, parecia-me ter encontrado o Senhor Jesus Cristo face a face. Não me entrou na mente, na ocasião, nem por algum tempo depois, que era apenas uma concepção mental. Ao contrário, parecia-me que eu o encontrara como encontro qualquer pessoa. Ele não disse coisa alguma, mas olhou para mim de tal forma, que fiquei quebrantado e prostrado aos seus pés. Isso, para mim, foi, depois, uma experiência extraordinária, porque parecia-me uma realidade, como se Ele mesmo ficasse em pé perante mim, e eu me prostrasse aos seus pés e lhe derramasse a minha alma. Chorei alto e fiz tanta confissão quanto foi possível, entre soluços. Parecia-me que lavava os seus pés com as minhas lágrimas; contudo, sem sentir ter tocado na sua pessoa..." "Ao virar-me para me sentar, recebi o poderoso batismo com o Espírito Santo. Sem o esperar, sem mesmo saber que havia tal para mim, o Espírito Santo desceu de tal maneira, que parecia encher-me corpo e alma. Senti-o como uma onda elétrica que me traspassava repetidamente. De fato, parecia-me como ondas de amor liqüefeito; porque não sei outra maneira de descrever isso. Parecia o próprio fôlego de Deus". "Não existem palavras para descrever o maravilhoso amor derramado no meu coração. Chorei de tanto gozo e amor que senti; acho melhor dizer que exprimi, chorando em alta voz, as inundações indizíveis do meu coração. As ondas passaram sobre mim, uma após outra, até eu clamar: 'Morrerei, se estas ondas continuarem a passar sobre mim! Senhor, não suporto mais!' Contudo, não receava a morte". "Não sei por quanto tempo este batismo continuou a passar sobre mim e por todo o meu ser. Mas sei que era já noite quando o dirigente do coral veio ao gabinete para me visitar. Encontrou-me nesse estado de choro aos gritos e perguntou: 'Sr. Finney, que tem?' Por algum tempo não pude responder-lhe. Então ele perguntou mais: - 'Está sentindo alguma dor?' Com dificuldade respondi: - Não, mas sinto-me demasiadamente feliz para viver". "Saiu e, daí a pouco, voltou acompanhado por um dos anciões da Igreja. Esse ancião sempre foi um homem de espírito ponderado e quase nunca ria. Ele, ao entrar, encontrou-me no mesmo estado, mais ou menos, como quando o rapaz o foi chamar. Queria saber o que eu sentia e eu comecei a lhe explicar. Mas, em vez de responder-me, foi tomado de um riso espasmódico. Parecia impossível evitar o riso que procedia do fundo do seu coração". Nessa altura, entrou certo rapaz que começou a freqüentar os cultos da igreja. Presenciou tudo por alguns momentos, até cair no chão em grande angústia de alma, clamando: "Orem por mim!" O ancião da igreja e outro crente oraram e depois Finney também orou e logo após todos se retiraram deixando Finney sozinho. Ao deitar-se para dormir, Finney adormeceu, mas logo se acordou, por causa do amor que lhe transbordava do coração. Isso aconteceu repetidas vezes durante a noite. Sobre isso ele escreveu depois: "Quando me acordei, de manhã, a luz do sol penetrava no quarto. Faltavam-me palavras para exprimir os meus sentimentos ao ver a luz do sol. No mesmo instante, o batismo do dia anterior voltou sobre mim. Ajoelhei-me ao lado da cama e chorei pelo gozo que sentia. Passei muito tempo sem poder fazer coisa alguma senão derramar a alma perante Deus". Durante o dia, o povo se ocupava em falar da conversão do advogado. Ao anoitecer, sem qualquer anúncio do culto, ajuntou-se uma multidão no templo. Quando Finney relatou o que Deus fizera na sua alma, muitos foram profundamente comovidos; um, sentiu-se tão convicto que voltou a casa sem o chapéu. Certo advogado afirmou: "É claro que ele é sincero; mas que enlouqueceu, é evidente." Finney falou e orou com grande liberdade. Realizavam-se cultos todas as noites por algum tempo, aos quais assistiam pessoas de todas as classes. Esse grande avivamento espalhou-se para muitos lugares em redor. Finney continuou: "Por oito dias (depois da sua conversão) o meu coração permanecia tão cheio, que não sentia desejo de comer nem de dormir. Parecia-me que tinha um manjar para comer que o mundo não conhecia. Não sentia necessidade de alimentar-me nem de dormir....Por fim, cheguei a ver que devia comer como de costume e dormir quanto fosse possível". "Grande poder acompanhava a Palavra de Deus; todos os dias admirava-me ao notar como poucas palavras, dirigidas a uma pessoa, traspassavam-lhe o coração como uma seta". "Não demorei muito em ir visitar meu pai. Ele não era salvo; o único membro da família que fizera profissão de religião era meu irmão mais novo. Meu pai encontrou-me no portão e me perguntou: - 'Como tem passado, Carlos?' Respondi-lhe: - Bem, meu pai, tanto no corpo como na alma. Meu pai, o senhor já é idoso, todos os seus filhos estão crescidos e casados; e nunca ouvi alguém orar na sua casa. Ele baixou a cabeça e começou a chorar, dizendo: - 'É verdade, Carlos; entre, e você mesmo ore'". "Entramos e oramos. Meus pais ficaram comovidos e, não muito depois, converteram-se. Se a minha mãe tinha qualquer esperança antes, ninguém o sabia". Assim, esse advogado, Carlos G. Finney, perdeu todo o gosto pela sua profissão e se tornou um dos mais famosos pregadores do Evangelho. Acerca de seu método de trabalhar, ele escreveu: "Dei grande ênfase à oração como indispensável, se realmente queríamos um avivamento. Esforçava-me por ensinar a propiciação de Jesus Cristo, sua divindade, sua missão divina, sua vida perfeita, sua morte vicária, sua ressurreição, a necessidade de arrependimento e de fé, a justificação pela fé, e outras doutrinas que se tornaram vivas pelo poder do Espírito Santo". "Os meios empregados eram simplesmente pregação, cultos de oração, muita oração em secreto, intensivo evangelismo pessoal e cultos para a instrução dos interessados". "Eu tinha o costume de passar muito tempo orando; acho que, às vezes, orava realmente sem cessar. Achei, também, grande proveito em observar freqüentemente dias inteiros de jejum em secreto. Em tais dias, para ficar inteiramente sozinho com Deus, eu entrava na mata, ou me fechava dentro do templo..." Acerca do espírito de oração, Finney afirmou que "era coisa comum nesses avivamentos, os recém-convertidos se acharem tomados pelo desejo de orar noites inteiras até lhes faltarem as forças físicas. O Espírito Santo constrangia grandemente o coração dos crentes, e sentiam constantemente a responsabilidade pela salvação das almas imortais. A solenidade da mente se manifestava no cuidado com que falavam e se comportavam. Era muito comum encontrar crentes juntos caídos de joelhos em oração em vez de ocupados em palestras". Em certo tempo, quando as nuvens de perseguição enegreciam cada vez mais, Finney, como era seu costume sob tais circunstâncias, sentia-se dirigido a dissipá-las, orando. Em vez de falar pública ou particularmente acerca das acusações, ele orava. Acerca da sua experiência escreveu: "Eu olhava para Deus com grande anelo, dia após dia, rogando que Ele me mostrasse o plano a seguir e a graça para suportar a borrasca... O Senhor mostrou-me, em uma visão, o que eu tinha de enfrentar, Ele chegou-se tão perto de mim, enquanto eu orava, que a minha carne literalmente estremecia sobre os ossos. Eu tremia da cabeça aos pés, sob o pleno conhecimento da presença de Deus". Acrescentemos mais um exemplo, tirado de sua autobiografia, da maneira de o Espírito Santo operar na sua pregação: "Ao chegar, na hora anunciada para iniciar o culto, achei o prédio da escola repleto e tinha de ficar em pé perto da entrada. Cantamos um hino, isto é, o povo pretendia cantar. Entretanto, eles não tinham o costume de cantar os hinos de Deus, e cada um desentoava à sua própria maneira. Não podia conter-me e lancei-me de joelhos e comecei a orar. O Senhor abriu as janelas dos céus, derramou o espírito de oração e entreguei-me de toda a alma a orar". "Não escolhera um texto, mas logo ao levantar-me dos joelhos, eu disse: Levantai-vos, saí deste lugar, porque o Senhor há de destruir a cidade. Acrescentei que havia dois homens, um se chamava Abraão e o outro Ló.... Contei-lhes como Ló se mudara para Sodoma.... O lugar era excessivamente corrupto... Deus resolveu destruir a cidade e Abraão orou por Sodoma. Mas os anjos acharam somente um justo lá, era Ló. Os anjos disseram: 'Tens alguém mais aqui? Teu genro, e teus filhos, e tuas filhas, e todos quantos tens nesta cidade, tira-os fora deste lugar; porque nós vamos destruir este lugar, porque o seu clamor tem engrossado diante da face do Senhor, e o Senhor nos enviou a destruí-lo'". "Ao relatar estas coisas, os ouvintes se mostraram irados a ponto de me açoitarem. Nessa altura, deixei de pregar e lhes expliquei que compreendera que nunca se realizara culto ali e que eu tinha o direito de, assim considerá-los corruptos. Salientei isso com mais e mais ênfase e, com o coração cheio de amor até não poder mais conter-me". "Depois de eu assim falar cerca de quinze minutos, parecia cair sobre os ouvintes uma tremenda solenidade e começaram a cair ao chão, clamando e pedindo misericórdia. Se eu tivesse tido uma espada em cada mão, não os poderia derrubar tão depressa como caíram. De fato, dois minutos depois de os ouvintes sentirem o choque do Espírito vir sobre eles, quase todos estavam ou caídos de joelhos ou prostrados no chão. Todos os que podiam falar de qualquer maneira, oravam por si mesmos". "Tive de deixar de pregar, porque os ouvintes não prestavam mais atenção. Vi o ancião que me convidara para pregar, sentado no meio do salão, olhando em redor, estupefato. Gritei bem alto para ele ouvir, apesar da balbúrdia, pedindo-lhe que orasse. Caiu de joelhos e começou a orar em voz retumbante; mas o povo não prestou atenção. Gritei: 'Vós não estais ainda no Inferno; quero vos dirigir a Cristo. O coração transbordava de gozo ao presenciar tal cena. Quando pude dominar os meus sentidos, virei-me para um rapaz que estava perto de mim, consegui atrair a sua atenção e preguei Cristo, em voz bem alta, ao seu ouvido. Logo, ao olhar para a 'cruz' de Cristo, ele acalmou-se por um pouco e então rompeu em oração pelos outros. Depois fiz o mesmo com um outro; depois com mais outro e continuei assim tratando com eles até a hora do culto da noite, na aldeia. Deixei o ancião que me convidara a pregar, para continuar a obra com os que oravam". "Ao voltar, havia tantos clamando a Deus que não podemos encerrar a reunião, que continuou o resto da noite. Ao amanhecer o dia, alguns ainda permaneciam com a alma ferida. Não se podiam levantar e, para dar lugar às aulas, foi necessário levá-los a uma residência não muito distante.. De tarde mandaram chamar-me porque ainda não findara o culto". "Só nesta ocasião cheguei a saber a razão de o auditório agastar-se da mensagem. Aquele lugar cognominava-se 'Sodoma' e havia somente um homem piedoso lá a quem o povo tratava de 'Ló'. Era o ancião que me convidara para pregar". Depois de já velho, Finney escreveu acerca do que o Senhor fez em "Sodoma". "Embora esse avivamento caísse tão repentinamente sobre eles era tão empolgante que as conversões eram profundas e a obra permanente e genuína. Nunca ouvi falar em qualquer repercussão desfavorável". Alguns pregadores confiam na instrução e ignoram a obra do Espírito Santo. Outros, com razão, rejeitam tal ministério infrutífero e sem graça; oram a Deus para o Espírito Santo tomar conta e alegram-se no grande progresso da obra de Deus. Mas, ainda outros, como Finney, dedicam-se a buscar o poder do Espírito Santo, sem desprezar a arma de instrução, e vêem resultados incrivelmente mais vastos . Durante os anos de 1851 a 1866, Finney foi diretor do colégio de Oberlin e ensinou a um total de 20 mil estudantes. Dava mais ênfase ao coração puro e ao batismo com o Espírito Santo do que à preparação do intelecto; de Oberlin saiu uma corrente contínua de alunos cheios do Espírito Santo. Assim, depois dos anos de uma campanha intensiva de evangelismo e no meio dos seus esforços no colégio, "em 1857, Finney via cerca de 50 mil, todas as semanas, converterem-se a Deus". (By My Spirit, Jônathan Goforth, p. 183) Os diários de New York, às vezes quase não publicavam outras notícias, senão do avivamento. Suas lições aos crentes sobre avivamento foram publicadas, primeiro em um jornal e depois em um livro de 445 páginas e que se intitulava "Discurso Sobre Avivamentos". As primeiras duas edições, de 12 mil exemplares, foram vendidas logo ao saírem do prelo. Outras edições foram impressas em vários idiomas. Uma só editora em Londres publicou 80 mil. Entre suas outras obras de circulação mundial, contam-se as seguintes: sua "Autobiografia", "Discursos aos Crentes" e "Teologia Sistemática". Os convertidos nos cultos de Finney eram pela graça constrangidos a andar de casa em casa para ganhar almas. Ele mesmo se esforçava para preparar o maior número de obreiros em Oberlin College. Mas o desejo que ardia sempre em tudo era o de transmitir a todos o espírito de oração. Pregadores como Abel Cary e Father Nash viajavam com ele e, enquanto ele pegava, eles continuavam prostrados em oração. Vejamos isso nas palavras de Finney: "Se eu não tivesse o espírito de oração, não alcançaria coisa alguma. Se por um dia, ou por uma hora eu perdesse o espírito de graça e de súplica, não poderia pregar com poder e fruto, e nem ganhar almas pessoalmente". Para que alguém não julgue que a obra era superficial, citamos outro escritor: "Descobriu-se, por pesquisa empolgante, que mais de 85 pessoas de cada 100 que se convertiam sob a pregação de Finney, permaneciam fiéis a Deus; enquanto 75 pessoas de cada cem, das que professaram conversão nos cultos de algum dos maiores pregadores, se desviavam. Parece que Finney tinha o poder de impressionar a consciência dos homens, sobre a necessidade de um viver santo, de tal maneira que produzia fruto mais permanente". (Deeper Experiences of Famous Christiasn, p. 243). Finney continuou a inspirar os estudantes de Oberlin College até a idade de 82 anos. Já no fim da vida, permanecia tão lúcido de mente como quando jovem e sua vida nunca foi tão rica no fruto do Espírito e na beleza da sua santidade do que nesses últimos anos. No domingo, 16 de agosto de 1875, pregou seu último sermão. Mas de noite não assistiu ao culto. Ao ouvir os crentes cantarem "Jesus lover of my soul, let me to Thy bosom fly", saiu até o portão na frente da casa, e com estes que tanto amava, foi a última vez que cantou na terra. Acordou-se à meia-noite, sofrendo dores lancinantes no coração. Sofrera assim muitas vezes durante sua vida. Semeara as sementes de avivamento e as regara com lágrimas. Todas as vezes que recebeu o fogo da mão de Deus, foi com sofrimento. Finalmente, antes de amanhecer o dia, dormiu na terra para acordar na Glória, nos céus. Faltavam-lhe apenas treze dias para completar 83 anos de vida aqui na terra. Mas aprouve a Deus levá-lo antes.
*O príncipe dos pregadores* (1ª Parte) Alguém disse que poderia dividir a vida de Charles Haddon Spurgeon igual aos seus sermões, com uma introdução e três seções. A introdução seria Spurgeon da infância até a adolescência. O primeiro período (ou divisão), Spurgeon em New Park Street, época do despertar e da oposição. O segundo período de Spurgeon, depois de se instalar no Tabernáculo Metropolitano em que a tormenta se converteu em quase admiração. O último ponto seria o período dos últimos cinco anos, em que a paz terminou subitamente e se tornou em oposição. Seguiremos, pois, este esboço para desenvolver esta breve biografia da vida do homem que foi chamado "O Príncipe dos Pregadores". Infância e adolescência Charles H. Spurgeon nasceu em 19 de junho de 1834, em Kalvedon, num povoado campestre no condado de Essex, Inglaterra. Foi o primeiro de 16 filhos. Pertencia a uma família cristã de origem protestante (calvinista) de reconhecida probidade. Duzentos anos atrás, o seu bisavô havia sido encarcerado por razões de consciência. Por causa da hostilidade, a família teve que fugir para a Inglaterra, onde o seu avô, James, foi pastor da Igreja de Stanbourne por mais de meio século. Quando o pequeno Charles tinha apenas 18 anos de idade, seu pai mudou-se para Colchester, onde era responsável pela contabilidade de um comércio de carvão. Entretanto, exercia o pastorado de uma igreja independente em Tollesbury. Mais tarde, o menino foi enviado para viver com o seu avô na localidade de Stanbourne. Desde a mais tenra idade, leu os livros do seu pai e do seu avô. Mas, mais do que isso, se impregnou da atmosfera da verdadeira piedade de ambos os lares: o respeito pela Palavra, que era tão característico dos puritanos, a retidão de consciência que sempre caracterizou aos não conformistas ingleses, a decidida rejeição às práticas da igreja imperante e a absoluta dedicação à obra do evangelho. Enquanto estava com o seu avô, ocorreu um fato muito significativo. Chegou em sua casa Richard Knill, um pregador amigo da família. Depois de compartilhar vários dias com eles, ficou muito impressionado com o pequeno Charles. Antes de partir, reuniu a todos e, sentando o menino sobre os seus joelhos disse: "Não sei como, mas tenho um solene pressentimento de que este menino pregará o Evangelho a milhares e que Deus o abençoará com muitas almas. Estou tão seguro disto, que quando meu pequeno homem pregar na capela de Rowland Hill gostaria que cantasse o hino que começa assim: "Deus se move de maneira misteriosa, para suas maravilhas efetuar". Spurgeon disse mais tarde: "As palavras de Mr. Kill contribuíram para efetuar o seu próprio cumprimento? Penso que sim. Cri nelas e olhei para o futuro, para a época em que pregaria a Palavra". De fato, a profecia se cumpriu e a pregação em Rowland Hill também, com o hino incluído. Quando tinha 11 anos de idade freqüentou uma escola em Colchester e mais tarde passou dois anos em uma escola de Maidstone. Durante seus dias ali, ganhou prêmios e medalhas em torneios literários e concursos. Possuía uma viva inteligência e era persistente no estudo, e de muito boa memória. Seus condiscípulos admiravam a sua habilidade de observação. J.D. Everett, que foi o seu condiscípulo, o recorda assim: "Era muito pequeno e delicado, de rosto pálido, mas cheio, olhos e cabelos escuros, de estilos vívidos e brilhantes, com incessante manancial de conversação. Fisicamente frágil, não se ocupava com os jogos atléticos. Era esperto e hábil em todo gênero de livros de conhecimento; e hábil nos negócios. Tinha uma assombrosa memória pra as passagens da oratória, e costumava recitar-me partes de conferências, de vívida descrição. Ouvi-lhe também recitar grandes partes do livro 'Graça Abundante' de John Bunyan". Conversão e primeiros passos Spurgeon tinha o costume de ir à igreja do seu pai; mas no domingo de 15 de janeiro de 1850 não pode ir por causa da forte nevasca que caía. Por causa disso, procurou um lugar onde poderia ouvir a Palavra. "Encontrei uma pequena capela dos Metodistas Primitivos. Eu tinha ouvido muitas pessoas falar desta gente, e sabia que cantavam tão alto que o seu canto dava dor de cabeça; mas não me importei. Queria saber como ser salvo, e não me importava se me desse dor de cabeça. Assim que me sentei, o serviço continuou, mas o pregador não veio. No final, um homem de aparência muito magra, Roberto Eaglen, subiu no púlpito, abriu a Bíblia e leu as palavras: 'Olhai para mim e sedse salvos, vós, todos os confins da terra' (Isaías 45:22). Então, fixando os seus olhos em mim como se me conhecesse , disse: 'Jovem, tu estás em dificuldades'. Sim, eu estava em uma grande dificuldade. Continuou: 'Nunca sairá dela enquanto não olhares para Cristo'. Então, levantando as suas mãos, gritou como creio eu, só podem gritar os Metodistas Primitivos: 'Olhe, olhe, olhe. Só tem que olhar', disse. E nesse momento vi o caminho da salvação. Oh, como saltou de alegria o meu coração naquele momento! Não sei se disse outra coisa. Não prestei muita atenção a isto, tão possuído que eu estava só por aquela idéia". Spurgeon tinha nestes momentos quinze anos e seis meses.1 Pouco depois passou a viver em Newmarkel, onde trabalhou como ajudante de professor. Ali, com o consentimento paterno, se batizou e uniu-se aos batistas. Posteriormente trabalhou em uma escola em Cambridge. Estando ali, sentiu o chamado para o ministério. Spurgeon começou o seu serviço ao Senhor como professor de Escola Dominical e pregador leigo. Por seu caráter afável e pela agradável instrução que aplicava aos meninos, se tornou muito querido. O seu primeiro sermão foi dado de maneira inesperada. Foi encarregado para acompanhar a um jovem pregador à aldeia de Terversham, mas, para a sua surpresa, o pregador se negou a pregar e encarregou a sua tarefa a Spurgeon. O tema da sua pregação foi: "Para vós outros, portanto, os que credes, é a preciosidade" (1ª Pedro 2:7). Os simples camponeses ficaram muito impressionados pelo ardor do coração do jovem e, desde então, sua fama começou a crescer nos arredores. E quando não queriam ouvi-lo, ele arrumava uma maneira para que o fizessem. Certa vez, em uma noite chuvosa, depois de haver caminhado bastante para chegar a um povoado, se deparou que ninguém estivesse reunido. Então, vestido de sua capa, levando sua lanterna na mão, foi de casa em casa, convidando as pessoas. Assim pode reunir uma pequena congregação. Primeiro pastorado No final de 1850, quando tinha apenas alguns poucos meses de pregador, foi chamado ao pastorado da Igreja Batista de Waterbeach, um lugar próximo a Cambridge. Spurgeon tinha então 17 anos de idade. Desde então, e ainda quando esteve em seus dias de glória, nunca desdenhou as congregações pequenas ou rurais, onde sempre pregava com o maior prazer. Quando iniciou como pastor em Waterbeach, a aldeia tinha um pouco mais de 1000 habitantes, espalhados em uma zona ampla. A figura masculino dali tinha uma má fama. Na maioria eram rudes camponeses, dados a embriagues e à libertinagem. A pequena congregação se reunia em um celeiro, transformado em capela de paredes brancas e teto de palha. Tinha uns cinqüenta membros, dos quais só estava presente uma dúzia quando Spurgeon pregou o seu primeiro sermão. Durante o tempo que permaneceu em Waterbeach passou por apertos e escassez, mas a Igreja cresceu e o povo sofreu uma completa transformação. O jovem que Deus havia usado para isso recebeu o apreço e o respeito de todos. Em pouco tempo, os pais de Spurgeon queriam que o seu filho ingressasse no famoso Regent´s Park College. Ainda que Spurgeon se sentisse arredio a fazê-lo, acordaram em uma entrevista entre ele e o diretor, a fim de tratar o assunto. A entrevista seria organizada na casa de um tal Macmillan, um editor cristão. Ambos foram ao encontro no horário e lugar marcado, mas por um erro de uma das empregadas, foram introduzidos em distintos cômodos, onde ficaram esperando por muito tempo, sem saberem que se encontravam tão perto um do outro. A entrevista fracassou e Spurgeon considerou que isto era uma indicação de que Deus não queria que ele cursasse estudos sistemáticos de teologia. Essa mesma tarde entendeu ouvir uma voz que lhe dizia: "Procuras grandes coisas para ti? Não as busque". Ele recebeu isto como um expresso mandamento de Deus para não ingressar em universidade alguma. Nem naquele momento nem depois, Spurgeon haveria de fazê-lo. No entanto, chegou a ser um dos homens mais ilustres da época. Dizem que lia pelo menos seis livros por semana e chegou a contar com uma biblioteca pessoal de 10.000 volumes. No final de outubro ou início de novembro de 1853, quando Spurgeon ainda não havia completado 20 anos, celebrou-se em Cambridge uma Convenção de Escolas Dominicais, onde foi convidado juntamente com outros dois pregadores. No auditório se encontrava um senhor de sobrenome Gould. Por esta época, a antiga e célebre Igreja da rua New Park Street de Londres, se encontrava sem pastor e num estado de grande decadência. Um dia, conversando Gould com um diácono daquela igreja, se lamentava com as tristes condições em que se encontrava a congregação. Então Gould lhe falou de Spurgeon. Num domingo pela manhã, entregaram a Spurgeon uma carta procedente de Londres. Após lê-la, entregou-a a um diácono e lhe disse: "Seguramente esta carta não é para mim, e sim para alguma outra pessoa com o meu nome". No dia seguinte, escreveu para Londres dizendo que supunha haver algum erro, pois ele tinha apenas 19 anos de idade e era o pregador de uma pequena igreja rural. Com esta carta deu por encerrado o assunto. Mas logo em seguida, recebeu outra carta de Londres na qual retificava o convite para pregar em New Park Street. Chegada a New Park Street A visita a Londres estava cheia de temores, de sentimentos de ridículo (na casa de hóspedes lhe fizeram ver os seus trajes rudes) e da pequenez da sua pessoa, em meio a grandeza da capital. No entanto, a sua pregação no domingo pela manhã agradou aos pouco mais de cem que a assistiam. Deu o texto foi Tiago 1:17 "Toda boa dádiva e todo dom perfeito são lá do alto". À noite pregou sobre Apocalipse 14:5 "E não se achou engano na sua boca; porque são irrepreensíveis". Depois do serviço da pregação, a congregação não se dissolveu imediatamente, comentando o que haviam ouvido, e expressando o seu desejo de que o jovem pregador voltasse outra vez. A congregação da rua New Park tinha uma história muito respeitável, que datava do século XVII. Em diferentes épocas havia desfrutado de grande prosperidade e florescimento, mas naquele momento se achava em grande decadência; ao ponto que, como disse o autor, "todo o seu futuro parecia encerrar-se no seu passado". O local da capela, capaz de conter 1200 pessoas sentadas, apenas recebia a visita de 60 ou 70 em um ambiente glacial. Os diáconos comprometeram Spurgeon a pregar durante seis semanas, alternando as pregações entre Londres e Waterbeach. Não o bastante a intermitência, a igreja se via cada dia mais animada e concorrida. Ao terminar o prazo, pediram-lhe que suprisse o púlpito por um período de seis meses, como um passo prévio ao pastorado. Spurgeon respondeu-lhes que o prazo de três meses bastava, cuja data poderia ser prorrogada por outros três, ou despedido sem necessidade de explicações. Quando ainda não estavam concluídos os primeiros três meses, a congregação convidou-lhe para aceitar o pastorado com o caráter oficial e permanente. Era 28 de abril de 1855. Em pouco tempo a epidemia de cólera invadiu Londres, causando estragos na população. O diligente e valioso comportamento do jovem pregador aumentou ainda mais a sua popularidade e isto fez que ganhasse muitos amigos leais. As multidões literalmente invadiam a capela de New Street para ouvi-lo. Num daqueles domingos, ao terminar o sermão, disse Spurgeon: "Pela fé caíram os muros de Jericó; e pela fé também cairá esta parede do fundo". Ao concluir o serviço, um dos diáconos da igreja lhe disse que não deveria voltar a mencionar tal assunto, ao que este respondeu com a sua característica prontidão: "O aqe você está querendo dizer? Não me ouvirão mais falar disto quando estiver feito, portanto, quanto mais rápido fizer, melhor". Em poucos dias começaram os trabalhos. Casamento e família Entretanto, Spurgeon se casou com Susana Thompson, uma jovem da igreja. Considerando que ela teve durante grande parte da sua vida problemas de saúde, foi uma ajudadora idônea e amiga fiel. Pertencia a uma pacata família de comerciantes da cidade e havia recebido uma sólida educação. Brilhava em seu ambiente por seus gostos refinados e pela grande bondade do seu caráter, mais que pela beleza física. Era uma mulher a quem Deus havia adornado com as melhores virtudes para a missão que lhe corresponderia cumprir. Ela teve a energia para empreender duas obras que lhe valeram muito reconhecimento e estima: o "Fundo de Livros", e o "Fundo de Auxílio para Ministros Pobres". O primeiro surgiu quando Spurgeon publicou os seus "Discursos aos meus alunos", em 1869. Ela se sentiu tão apaixonada pelo livro, que quando o seu marido lhe perguntou: "Você gostou?, ela respondeu: "Quem me dera pudesse por isso nas mãos de cada ministro da Inglaterra". "Quanto disponibilizará para este fim?", perguntou ele. Então ela se lembrou que em uma pequena gaveta tinha um dinheiro guardado por anos. Ao contá-lo, viu que somava a quantidade necessária para comprar cem exemplares do livro. Assim nasceu o "Fundo dos Livros". A obra efetuada por esta nobre mulher adquiriu grande importância a medida que o tempo passava. No ano de 1884, ela informava que, nos quinze anos de existência do "Fundo dos Livros", foram distribuídos 122.129 livros, além de um grande número de sermões; e que estes livros haviam sido doados a mais de 12.000 ministros de todas as denominações. Estes trabalhos permitiram a Sra. Spurgeon inteirar-se dos graves problemas econômicos que afligiam aos muitos ministros pobres. Assim surgiu a idéia de criar a o Fundo de Auxílio Ministerial. Com respeito aos filhos, os Spurgeon tiveram apenas dois filhos gêmeos, e ambos, passado o tempo, ingressaram no ministério. Um deles se destacou por sua eloqüência e capacidade, e sucedeu a seu tio de mesmo nome, que havia ficado à frente do Tabernáculo após a morte de Spurgeon. Seu outro filho também desempenhou postos de importância em sua denominação. Publicações Uma das maiores fases do trabalho de Spurgeon, e que lhe deu rápida popularidade, foi a publicação dos seus sermões. Desta maneira esteve enviando as suas mensagens para muito longe, em um período de um terço de século. Sendo ainda muito jovem, Spurgeon leu um sermão que lhe causou profunda impressão, daí surgiu a idéia de publicar alguns dos seus sermões 'com valor de um peni-que ' (moeda inglesa que equivale à centésima parte da libra esterlina). Ao término do seu primeiro ano em Londres, já havia publicado doze. Então se pôs em acordo com o editor Passmore, que era membro da igreja, para realizar a publicação semanal dos seus sermões. Assim, desde o ano de 1855 até o ano de 1892, ano da sua morte, por um espaço de 35 anos, esta publicação continuou ininterruptamente. Os sermões eram registrados taquigraficamente e na manhã seguinte ele os revisava; então entregava ao impressor e um dia depois se dedicava a fazer a primeira e a segunda correção das provas. Desde o início, tiveram uma ampla circulação: 2.500 exemplares semanais. Durante os 35 anos foram publicados aproximadamente uns 32 milhões de sermões. Foram publicados em um grande número de jornais e revistas, em diversas partes do mundo. "O auditório de Spurgeon", disse alguém, foi todo o mundo cristão". Um dia Spurgeon deu uma emocionada notícia em seu auditório: "Tenho em minha mão um sermão no qual dou grande valor. Tem estampadas as iniciais D.L., quer dizer, David Livingstone, e é um sermão meu encontrado dentro de uma das caixas do doutor Livingstones. Tem o título 'Acidentes e Castigos'; e nele se encontra escritas estas palavras: 'Muito bom! D.L.' Foi enviado pela sua viúva, e esta sujo e rasgado, mas o guardo como uma relíquia, porque aquele servo de Deus o levou com ele". Em seu extenso ministério, houve muitos outros testemunhos similares. Um deles fez um grande percurso antes de chegar às mãos de uma mulher de vida imoral: "Pensem naquele sermão pregado em Londres, enviado à América, um resumo dele publicado num jornal daquele país, esse jornal enviado à Austrália, parte dele rasgado (como se fosse acidentalmente), envolvendo um pacote que foi enviado a Inglaterra, e depois de tanto viajar, leva a mensagem de salvação à alma daquela mulher". Um inglês que subia os Alpes, perto do lago de Genebra, chegou a uma casa, perdida naquele lugar deserto onde encontrou sentada sobre a erva, duas mulheres concentradas na leitura de um livro: se tratava de um tomo dos sermões de Spurgeon, traduzidos para o francês. Nos Estados Unidos, os sermões eram publicados até por jornais seculares. Muitas igrejas que não tinham pastores pediam para que fossem lidos em suas reuniões. Na Rússia dos Ramanoff, onde muitos cristãos eram perseguidos, os sermões de Spurgeon tiveram uma grande recepção e efetuaram a sua obra de salvação. Em 1881, um ministro de San Petersburgo escreveu a Spurgeon: "Por meio dos seus sermões você está tomando uma grande parte no adiantamento do Reino de Cristo, tanto em San Petersburgo como no interior. Você é bem conhecido entre os sacerdotes, os que parecem agarrar-se aos seus sermões traduzidos; e, o que é mais estranho, é que conheço casos em que o Censor, de boa vontade deu permissão para que as suas obras fossem traduzidas, e isso ao mesmo tempo em que se mostrava irredutível com respeito a outras publicações". Outro ministro de Varsóvia escreveu a Spurgeon em 1882: "Nas últimas semanas, tenho visitado as Igrejas da Silésia e Polônia Russa. Em quase todo povoado e vilas, uma das primeiras perguntas que me faziam era: 'Como está o irmão Spurgeon?'. Os soldados ingleses que foram enviados para a Índia recebiam os sermões semanalmente pelo correio, e no domingo à noite liam. Um caso atípico, porque não liam nada que tivesse algum teor religioso. Quando o sermão já havia passado pelas mãos de 50 ou 60 homens, encontrava-se completamente escuro, usado e rasgado. Na Austrália, um homem encontrou um sermão impresso jogado no chão de uma cabana, e por meio de sua leitura chegou ao conhecimento da verdade. Guardou-o cuidadosamente durante o resto da sua vida, e em seu leito de morte, o deu a um missionário como o único tesouro que poderia deixar atrás de si. Outro australiano fez com que alguns destes sermões fossem publicados nos jornais, pagando pessoalmente um alto custo para isso. Da Tasmânia escreveu a esposa de um missionário em 1885: "Se o Sr. Spurgeon soubesse quão apreciado são os seus sermões em nossos serenos bosques, onde não há pregações por espaço de anos, e quantos casos de conversões tem havido devido a eles, se sentiria maravilhado e se regozijaria com gozo indizível". Conta-se um caso de um armador de barcos de pesca, no Mar do Norte, que se converteu por um dos sermões de Spurgeon, e colocou em um dos seus barcos o nome de "Charles H. Spurgeon", o qual havia intervido no salvamento de outro barco que estava preste a naufragar. A. G. Brown relata o seguinte acontecido: "Uma vez veio a mim um homem de presença magnífica. Perguntei-lhe: 'Onde você recebeu o Salvador?', e imediatamente me respondeu: 'Latitude 25, longitude 54'. Confesso que estanhei tal resposta e fiquei intrigado. 'O que você está querendo dizer?', lhe perguntei. Ele respondeu: 'Eu estava sentado na cobertura do meu barco, e de um pacote de jornais que estava diante de mim, tirei um dos sermões de Spurgeon. Comecei a ler, e enquanto avançava na leitura, vi a verdade e recebi o Senhor em meu coração. Imediatamente busquei a latitude e a longitude em que me encontrava, e esta é a que tenho dado a você". A casa editora Passmore & Alabaster teve que abandonar todo outro gênero de publicações, para ocupar-se exclusivamente da edição dos livros e folhetos de Spurgeon, e não dava conta. Da grande quantidade de obras publicadas por Spurgeon, tanto de mensagens, exposições, de ilustrações, devocionais, históricos, de ensino e moral cristã, podemos destacar, dos traduzidos ao espanhol: "O Tesouro de Davi" (comentários dos Salmos em 2 tomos), "Pescador de almas", "Devocionais matutino", "Discursos aos meus alunos", "Notas de sermões", "Tudo por graça". As hostilidades começam Era 1856. Enquanto executavam as modificações da capela em New Park Street, a congregação alugou o Exeter Hall, um enorme edifício com capacidade para 5 ou 6 mil pessoas, que se encontrava em uma das avenidas mais importantes de Londres. Mas rapidamente também ficou pequena. A imprensa não podia deixar passar a verdadeira revolução que o jovem Spurgeon estava realizando. Alguns - poucos - tratavam o assunto com seriedade e respeito, mas os demais trataram impiedosamente, lançando na face as acusações mais absurdas, grosseiras e injuriosas. O seu nome começou a ser "chutado na rua como uma bola de futebol". Apresentavam-lhe como um macaco, um porco, um palhaço, ou como a personificação do próprio diabo. No dormitório em sua casa, a senhora Spurgeon pendurou um texto: "Bem-aventurados sois quando, por minha causa, vos injuriarem, e vos perseguirem, e, mentindo, disserem todo mal contra vós. Regozijai-vos e exultai, porque é grande o vosso galardão nos céus; pois assim perseguiram aos profetas que vieram antes de vós" (Mateus 5:11-12). Em muitos outros lugares do país, a imprensa se unia a essa corrente. Um jornal de Sheffield publicava: "Nos momentos atuais, o grande leão, a estrela, o meteoro, ou como quer que o chamem, dos batistas, é o reverendo Spurgeon. Ele está fazendo um verdadeiro furor no mundo religioso. A cada domingo, as multidões assaltam o Exeter Hall como se fossem a um grande espetáculo dramático. O enorme local se enche até transbordar de um público emocionado, cuja boa sorte para conseguir entrada só é invejada pelas centenas de pessoas que ficam do lado de fora assediando as portas fechadas... Spurgeon prega a si mesmo. Não é outra coisa senão um ator, e não faz outra coisa senão exibir aquela incomparável safadeza que o caracteriza em alto grau, entregando-se a grosseiras familiaridades com as coisas santas, declamando em estilo delirante e coloquial, contorcendo-se para cima e para baixo no púlpito como se estivesse no Teatro de Surrey, e orgulhando-se de sua própria intimidade com os céus com uma freqüência de dar náuseas. Dizem que o cérebro deste pobre jovem tem sido transtornado pela fama que adquiriu, e pelo incenso que se oferece no santuário. Reconheçamos em favor deles, que as grandes luminárias de sua denominação não apóiam nem sustentam Spurgeon. É um fenômeno espetacular, mas de curta duração, um cometa que apareceu subitamente no firmamento religioso. Subiu como um foguete, e pouco depois descerá como uma cana". Spurgeon tinha apenas 22 anos. Dias de controvérsia Porém, a maior controvérsia se apresentou no plano teológico. Spurgeon se deparou com a corrente doutrinária que imperava na cristandade de Londres. O ponto de vista doutrinário predominante nos anos de 1850 a 1860 era arminiano, e Spurgeon professava valentemente o calvinismo. Ele pensava que o arminianismo era um erro que estava influenciando todo o setor não conformista, assim como a própria Igreja da Inglaterra, e o dizia com o ímpeto da sua arrojada juventude e do seu zelo por aquilo que ele considerava a pureza do evangelho. "The Bucks Chronicle" o acusava de fazer do hiper calvinismo requisito essencial para entrar no céu; "The Freeman" lamentava que denunciasse os arminianos "em quase todos os sermões"; "The Christian News" assim mesmo condenava as suas "doutrinas de tão feroz exclusivismo" e sua oposição ao arminianismo; e "The Saturday Review" se doía porque Spurgeon pregava a redenção "em salas saturadas de cheiro de tabaco". Ao invés de declarar-se inocente destas acusações, Spurgeon imediatamente as aceitava. Afirmava que a necessidade primordial da Igreja não era simplesmente mais evangelismo, nem sequer mais santidade (em primeiro lugar), senão o retorno à plena verdade das doutrinas da graça, e às que, para abreviar, estava disposto a chamar calvinismo. Spurgeon afirmava: "A antiga verdade que Calvino pregou, que Agostinho pregou, que Paulo pregou, é a verdade que devo pregar hoje, ou do contrário, seria infiel à minha consciência e ao meu Deus. Não sou eu quem dá forma à verdade; ignoro o que seja suavizar as aresta e saliências de uma doutrina. O evangelho de John Knox é o meu. O que ascendeu na Escócia há de ascender de novo na Inglaterra". Spurgeon se defendia dos ataques com sutileza e elegância: "Nos culpam de sermos 'ultras'; nos consideram a escória da criação; apenas existem ministros que olham ou falam favoravelmente de nós, porque defendemos pontos de vista enérgicos quanto a soberania de Deus, suas divinas eleições, e seu amor especial para com o seu próprio povo". Pregando para a sua própria congregação, disse em 1860: "Não existe uma igreja de Deus na Inglaterra nos últimos cinqüenta anos que passou por mais provas do que nós... Não há um dia que não caia sobre a minha cabeça o mais infame dos insultos, tanto privado como na imprensa pública; buscam todos os meios para destruir o ministro de Deus...". Spurgeon pensava que a oposição não era apenas com a sua pessoa, senão que os ataques obedeciam a causas mais profundas. "Irmãos, em todos os corações existem esta natural inimizade contra Deus e contra a soberania de sua graça". "Sei que há homens que mordem os lábios e rangem os dentes em cólera quando estou pregando a soberania de Deus... Os ensinos de hoje aceitam um Deus, mas um Deus que não é Rei, isto é, escolheram um deus que não é deus, antes servo do que soberano dos homens". "O fato de que a conversão e a salvação pertencem a Deus, é uma verdade humilhante. Devido ao seu caráter humilhante, não é aprovado pelos homens". Spurgeon considerava o arminianismo como popular porque servia para aproximar mais o Evangelho do pensamento do homem natural; aproximava os ensinamentos da Escritura à mente mundana. "Se a religião de Cristo nos houvesse ensinado que o homem fosse um ser nobre, só que um pouco caído - se a religião de Cristo houvesse ensinado que por seu sangue houvesse tirado o pecado de todo homem, e que todo homem pelo seu próprio e livre arbítrio, sem a graça divina, pudesse ser salvo - certamente seria uma religião muito aceitável para a massa dos homens". Os ensinamentos da graça foram os fundamentos do ministério de Spurgeon durante todo o seu ministério. Em todo caso, esta postura calvinista tão decidida por parte de Spurgeon foi muito mais teológica do que prática, e foi suavizando com os anos. O seu calvinismo nunca o impediu - ao contrário - de pregar com diligência o evangelho a todos, como se fosse o mais convencido dos pregadores metodistas e arminianos do avivamento wesleyano. Estas controvérsias não tiveram mais efeito do que tornar ainda mais popular o nome de Spurgeon, e que os seus serviços tivessem mais assistências. E os que vinham ver o palhaço fazer contorções, ou para ver a figura que tinha o diabo herege, permaneciam para ouvir a pregação. Muitos deles foram levados aos pés de Cristo. Spurgeon, que tinha senso de humor, conservava as caricaturas, como também os folhetos e artigos que publicavam da sua pessoa e obra. Tragédia Em junho de 1855, a congregação retornou do Exeter Hall para a capela de New Park Street, que tinha capacidade para 400 pessoas a mais do que antes. No entanto, o local tornou-se muito pequeno. Muitos tinham que retornar para as suas casa, frustrados. Mas Spurgeon não pregava somente ali. Também o fazia em outros lugares nos meios de semana. E também fora da Inglaterra. Em 1855 pregou em distintas cidades da Escócia. No seu retorno para a Inglaterra, viajou por Essex, Cambridgeshire, e Suffolk, pregando em muitos povoados, começando por Waterbeach, de onde havia ido a Londres dois anos antes. A estreiteza da capela de New Park Street, levou a necessidade de construir um templo que reunisse as condições apropriadas. Mas viam como uma tarefa muito difícil. Entretanto, pensaram em regressar ao Exeter Hall, mas os proprietários se negaram a arrendá-lo muito tempo para um só pregador. Pouco antes desta data haviam inaugurado o Music Hall (Teatro da Música) provavelmente o de maior capacidade em Londres. Alugar este edifício parecia um empreendimento gigantesco. No entanto, não havia outra opção. Então, enquanto se criava um fundo para a construção de um novo templo, alugouram o Music Hall. Mas reuniões ali tiveram um triste começo. A primeira noite em que Spurgeon pregou, em 19 de outubro de 1856, aconteceu um acidente que causou um tremendo impacto sobre o público, sobre o pregador e sobre o futuro da obra em Londres. O que não conseguiram os ataques dos jornais e dos teólogos - calar Spurgeon - quase conseguiu este funesto acidente. O lugar estava lotado com mais de 7.000 pessoas. Já na metade do sermão, alguns mal intencionados gritaram: "Fogo! Fogo!". A multidão reagiu de uma maneira terrível e correu para as portas, pisoteando uns aos outros e ocasionando a mais espantosa cena de desolação e morte. Spurgeon do púlpito suplicava para que a multidão permanecesse tranqüila, mas foi impossível dominar a assembléia. Sete pessoas morreram e 28 ficaram feridas. Nunca souberam quem foram os que tinham provocado está tragédia. Spurgeon ficou doente. Segundo algumas de suas biografias, foi esta enfermidade que o levaria à morte anos mais tardes. Além disso, foi terrivelmente fustigado por uma parte da imprensa. "The Saturday Review" escreveu em 25 de outubro: "Cremos que as atividades do senhor Spurgeon não merecem mais o mínimo de aprovação dos seus correligionários. Há apenas um ministro não conformista de certa categoria que está associado com ele. Não observamos, em nenhum dos projetos ou operações de edificação, que os nomes de nenhum dos líderes do chamado mundo religioso figurem como fiadores... Existe a opinião geral de que os seus anormais procedimentos não beneficiam à religião. Alugar locais de entretenimento público para pregação do domingo é uma novidade lamentável. Fica a impressão que a religião se encontra com falta de recursos. Depois de tudo, o senhor Spurgeon não faz outra coisa senão representar o papel de Jullien dominical. Ele nos fala do espírito profano que deve ter havido por detrás da mente clerical quando a Igreja representava Autos Sacramentais e tolerava a Festa dos Asnos; mas estas coisas antigas reaparecem quando os pregadores populares alugam salões de concertos, e pregam a redenção em salões saturados de cheiro de tabaco, e onde ressoam as melodias das gerações do 'Bobbing Around' e valsa de La Traviata". Ainda muitos religiosos o combateram; mas muitos amigos estiveram do seu lado. A terrível tragédia obrigou os irmãos a construir mais rapidamente um edifício que oferecesse segurança. Com efeito, a igreja adquiriu um extenso terreno, o mesmo onde nos séculos anteriores, um grande número de cristãos haviam sido queimados por sua fidelidade à Palavra de Deus. Neste mesmo ano levantou-se uma nova controvérsia em torno de Spurgeon, conhecida como a "Controvérsia do Ribeiro", e foi motivada por um volume de hinos que haviam sido publicado: Hinos para o Coração e para a Voz, O Ribeiro. Para Spurgeon, muitos dos hinos eram simplesmente "poemas da natureza", e careciam de uma clara verdade evangélica. Apesar de ser muito jovem, Spurgeon tinha idéias muito claras; e por ser jovem, as expressava com muita franqueza.
*Jonathan Edwards*, nasceu em East Windsor, Connecticut, EUA, em 5 de outubro de 1703, sendo seu pai um minis-tro do evangelho que militou na Igreja Congregacional. Criado em um lar evangélico, isto o estimulou sobremaneira desde o início de sua vida a um grande fervor espiritual, tendo já desde a meninice grande preocupação com a obra de Deus e com a salvação de almas. Ele começou a estudar o latim aos seis anos de idade e aos 13 já era fluente também em grego e hebraico. Em 1720 obteve o bacharelado no Colégio de Yale, em New Haven, iniciando em seguida os seus estudos teológicos nesta mesma instituição, obtendo o mestrado em 1722. Em seguida, assumiu uma cadeira de professor assistente em Yale, cargo que ocupou por dois anos. Mas, o chamado ao ministério falou mais alto e, após ser pastor de uma Igreja Presbiteriana em Nova York em 1722 (por um período de oito meses), em 1726, então aos 23 anos, assumiu o posto de segundo pastor na Igreja de Northampton, Massachussetts; igreja esta que era pastoreada por seu avô Solomon Stoddard (1643-1729), e a segunda maior da região, com mais de seiscentos membros, o que era prati-camente toda a população adulta daquela localidade. Em julho de 1727 casou-se com Sarah Pierrepont, filha de James Pierrepont, pastor da Igreja de New Haven, com quem teve 11 filhos. Em 1729 com a morte do seu avô, Jonathan se tornou o pastor titular da Igreja de Northampton, na qual cinco anos depois ocorreria um grande avivamento, entre 1734-35, chamado de O Grande Despertamento, que se iniciou entre os presbiterianos e luteranos na Pensilvânia e em Nova Jersey, e que teve seu apogeu por volta do ano de 1740, através do trabalho de George Whitefield. Em 1750, depois de pastorear a Igreja de Northampton por 23 anos, Jonathan Edwards foi despedido pela Igreja por ser contrário à prática de se servir a Ceia do Senhor a pessoas não convertidas, pratica instituída por seu avô, e que era do gosto da Igreja. Em seu sermão de despedida disse: Portanto, quero exortá-los sinceramente, para o seu próprio bem futuro, que tomem cuidado daqui em diante com o espí-rito contencioso. Se querem ver dias felizes, busquem a paz e empenhem-se por alcançá-la (I Pe 3:10-11). Que a recen-te contenda sobre os termos da comunhão cristã, tendo sido a maior, seja também a última. Agora que lhes prego meu sermão de despedida, eu gostaria de dizer-lhes como o apóstolo Paulo disse aos coríntios em II Coríntios 13.11: "Quanto ao mais, irmãos, regozijai-vos, sede perfeitos, sede consolados, sede de um mesmo parecer, vivei em paz; e o Deus de amor e de paz será convosco." (1) Em 1751, ele foi para Stockbridge, na colônia de Massachussetts, onde foi pastor dos colonos e missionário entre os índios. Em 1757, foi convidado a ser o presidente do Colégio de Nova Jersey, que viria posteriormente a ser a hoje conhecida Universidade de Princeton. Em 22 de março de 1758, um mês após ter tomado posse como presidente do Colégio, Jonathan Edwards morreu devido a complicações resultantes de uma vacina contra varíola. (1) Christian History 4:4, pág. 4. Tradução de Alderi S. Matos. Todos os textos são apresentados no original em inglês e possuem tradução do original para o português efetuada por Walter Andrade Campelo. Caso o caro leitor perceba alguma imperfeição na tradução, por favor entre em contato com o "webmaster" deste site através do endereço apresentado no rodapé da página, que esta será averiguada e, sendo o caso, corrigida.
*Martinho Lutero* Precursor da Reforma Protestante na Europa, Lutero nasceu na Alemanha no ano de 1483 e fez parte da ordem agostiniana. Em 1507, ele foi ordenado padre, mas devido as suas idéias que eram contrárias as pregadas pela igreja católica, ele foi excomungado. Idéias e doutrina Sua doutrina, salvação pela fé, foi considerada desafiadora pelo clero católico, pois abordava assuntos considerados até então pertencentes somente ao papado. Contudo, esta foi plenamente espalhada, e suas inúmeras formas de divulgação não caíram no esquecimento, ao contrário, suas idéias foram levadas adiante e a partir do século XVI, foram criadas as primeiras igrejas luteranas. Apesar do resultado, inicialmente o reformador não teve a pretensão de dividir o povo cristão, mas devido à proporção que suas 95 teses adquiriram, este fato foi inevitável. Para que todos tivessem acesso as escrituras que, até então, encontravam-se somente em latim, ele traduziu a Bíblia para o idioma alemão, permitindo a todos um conhecimento que durante muito tempo foi guardado somente pela igreja. Com um número maior de leitores do livro sagrado, a quantidade de protestantes aumentou consideravelmente e entre eles, encontravam-se muitos radicais. Precisou ser protegido durante 25 anos. Para sua proteção, ele contava com o apoio do Sábio Frederico, da Saxônia. Foi responsável pela organização de muitas comunidades evangélicas e, durante este período, percebeu que seus ensinamentos conduziam a divisão. Casou-se com a monja Katharina Von Bora, no ano de 1525, e teve seis filhos.
*Jeronimo Savonarola* povo de toda a Itália afluia, em número sempre crescente, a Florença. A famosa Duomo não mais comportava as enormes multidões. O pregador, Jerônimo Savonarola, abrasado com o fogo do Espírito Santo e sentindo a iminência do julgamento de Deus, trovejava contra o vício, o crime e a corrupção desenfreada na própria Igreja. O povo abandonou a leitura das publicações torpes e mundanas, para ler os sermões do ardente pregador : deixou os cânticos das ruas, para cantar os hinos de Deus. Em Florênça, as criaças fizeram procissões, coletando as máscaras carnavalescas, os livros obcenos e todos os objetos supérfluos que serviam à vaidade. Com isso formaram em praça pública uma pirâmide de vinte metros de altura e atearam-lhe fogo. Enquanto o monte ardia, o povo cantava hinos e os sinos da cidade dobravam em senal de vitória. Jerônimo era terceiro dos sete filhos da família. Nasceu de pais cultos e mundanos, mas de grando influência. Seu avô paterno era um famoso médico na corte do duque de Ferrara e os pais de Jerônimo planejavam que o filho ocupasse o lugar do avô. No colégio, era aluno esmerado. Mas os estudos da filosofia de Platão e de Aristóteles, deixara-lhe com a alma sequiosa. Foram sem dúvida os escritos de Tomaz de Aquino que mais o influenciaram ( a não ser as próprias Escrituras ) a entregar inteiramente o coração e a vida a Deus. Quando ainda menino, tinha o costume de orar e, ao crescer, o seu ardor em oração aumentou. A decadência da igreja, cheia de toda a qualidade de vícios e pecado, o luxo e a ostentação dos ricos em contraste com a profunda pobreza dos pobres, magoavam-lhe o coração. Passava muito tempo sozinho, nos campos e à beira do rio Pó, em contemplação perante Deus, ora cantando, ora chorando, conforme os sentimentos lhe ardiam no peito. Quando ainda jovem, Deus começou a falar-lhe em visões. A oração era sua grande consolação; os degrais do altar, onde se prostrava horas a fio, ficavam repetidamente molhados de suas lágrimas. Houve um tempo em que Jerônimo começou a namorar certa moça florentina. Mas quando ela mostrou ser desprezo alguém de sua orgulhosa família Strozzi, unir-se a alguém da família de Savonarola, Jerônimo abandonou para sempre a idéia de casar-se. Voutou a orar com crescente ardor. Enojado do mundo, desapontado acerca de seus próprios anelos, sem achar uma pessoa compassiva a quem pudesse pedir conselhos, e cançado de presenciar injustiças e perversidades que o cercavam, coisas que não podia remediar, resolveu abraçar a vida monástica. Ao apresentar-se no convento, não pediu o privilégio de se tornar monge, mas rogou que o aceitassem para fazer os serviços mais vis, da cosinha, da horta e do mosteiro. Na vida do claustro, Savonarola passava ainda mais tempo em oração, jejum e contemplação perante Deus. Sobrepujava todos os outros monges em humildade, sinceridade e obediência, sendo apontadado para lecionar filosofia, posição que ocupou até sair do convento. Depois de passar sete anos no mosteiro de Bolongna, frei ( irmão ) Jerônimo foi para o convento de São Marcos, em Florença. Grande foi o seu desapontamente ao ver que o povo de florentino era tão depravado como os dos demais lugares.( Até então ainda não reconhecia que somente a fé em Deus salva o pecador ). Ao completar um ano no convento de São Marcos, foi apontado instrutor dos noviciatos e, por fim, designado pregador do mosteiro. Apesar de ter ao seu dispor uma excelênte biblioteca, Savonarola utilizava-se cada vêz mais da Bíblia como seu livro de instrução. Sentia cada vêz mais o terror e a vingança do Dia do Senhor que se aproxima e, às vezes entregava-se a trovejar contra do púlpito contra a impiedade do povo. Eram tão poucos os que assistiam às suas pregações, que Savonarola resolveu dedicar-se inteiramente à instrução dos noviciados. Contudo, como Moisés, não podia escapar à chamada de Deus ! Certo dia, ao dirigir-se a uma feira, viu, repentinamente, em visão, os céus abertos e passando perante os seus olhos todas as calamidades que sobrevirão à igreja. Então lhe pareceu uma voz do Céu ordenando-lhe anunciar estas coisas ao povo. Convicto de que a visão era do Senhor, começou novamente a pregar com voz de trovão. Sob a nova unção do Espírito Santo a sua condenação ao pecado era feita com tanto ímpeto, que muitos dos ouvintes depois andavam atordoados sem falar, nas ruas. Era coisa comum, durante seus sermões, homens e mulheres de todas as idades e de todas as classes romperem em veemente choro. O ardor de Savonarola na oração aumentava dia após dia e sua fé crescia na mesma proporção. Freqüentemente, ao orar, caía em êxtase. Certa vêz, enquanto sentado no púlpito, sobreveio-lhe uma visão, durante a qual ficou imóvel por cinco horas, enquanto o seu rosto brilhava, e os ouvintes na igreja o contemplavam. Em toda a parte onde Savonarola pregava, seus sermões contra o pecado produziam profundo terror. Os homens mais cultos começaram então a assistir às pregações em Florença; foi necessário realizar as reuniões na Duomo, famosa catedral, onde continuou a pregar durante oito anos. O povo se levantava à meia-noite e esperava na rua até a hora de abrir a catedral. O corrupto regente de Florença, Lorenzo Medici, experimentou todas as formas: a bajulação, as peitas, as ameaças, e os rogos, para induzir Savonarola a desistir de pregar contra o pecado, e especialmente contra a perversidade do regente. Por fim, vendo que tudo era debalde, contratou o famoso pregador, Frei Mariano, para pregar contra Savonarola. Frei Mariano pregou um sermão, mas o povo não prestou atenção à sua eloquência e astúcia, e ele não ousou mais pregar. Nessa altura, Savonarola profetizou que Lorenzo, o Papa e o rei de Nápoles morreriam dentro de um ano, e assim sucedeu. Depois da morte de Lorenzo, Carlos VIII, da França, invadiu a Itália e a influência de Savonarola aumento ainda mais. O povo abandonou a literatura torpe e mundana para ler os sermões do famoso pregador. Os ricos socorriam os pobres em vêz de oprimi-los. Foi neste tempo que o povo fez a grande fogueira, na " piazza " de Florença e queimou grande quantidade de artigos usados para alimentar vícios e vaidade. Não cabia mais, na grande Duomo, o seu imenso auditório. Contudo, o sucesso de Savonarola foi muito curto. O pregador foi ameaçado, excomungado e, por fim, no ano de 1498, por ordem do Papa, foi enforcado e queimado em praça pública. Com as palavras: " O Senhor sofreu tanto por mim ! " , terminou a vida de um dos maiores e mais dedicados mártires de todos os tempos. Apesar de ele continuar até a morte a sustentar muitos dos erros da Igreja Romana, ensinava que todos os que são realmente crentes estão na verdadeira Igreja. Alimentava continuamente a alma com a palavra de Deus. As margens das páginas da sua Bíblia estão cheias de notas escritas enquanto meditava nas Escrituras. Conhecia uma grande parte da Bíblia de cor e podia abrir o livro instantaneamente e achar qualque texto. Passava noites inteiras em orações e foram-lhe dadas revelações quando em êxtase, ou por visões. Seus livros sobre " A Humildade ", " A Oração ", " O Amor ". etc.., continuam a exercer grande influência sobre os homens. Destruíram o corpo desse precursor da Grande Reforma, mas não puderam apagar as verdades que Deus, por seu intermídio, gravou no coração do povo .